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TEXTOS

Artistas recriam memória paulista na Casa do Tatuapé

A Casa do Tatuapé (Rua Guabijú, 49), feita de taipa, no Séc. XVII, é uma das poucas edificações que sobreviveram à avalanche de progresso que sucedeu seus primeiros moradores, os bandeirantes, na Capital. Também tornou-se um dos raros espaços civilizatórios fora do circuito artístico e cultural da cidade. Por isso mesmo, chamou a atenção de seis artistas plásticos que visitaram o lugar e dele fizeram sua morada, por algumas semanas, em busca de inspiração para a mostra que recria a memória da cidade, e que vale a pena ser vista, neste mês que celebra os seus 464 anos.

A alma do casarão, materializada em registros de seus sucessivos habitantes e elementos naturais encontrados nas redondezas, especialmente o barro e as pedras, mas, também, objetos, madeira e fotografia produziram um recorte artístico e cultural que nos convida a refletir, por exemplo, sobre a versão oficial da História das Bandeiras com a instalação Tocaia, de Reynaldo Candia.

Recortes de jornais, terrários e tela de Patrícia Furlong, em outra sala, ilustram o caminho das formas de morar na grande cidade, ao longo dos séculos. As viagens, no tampo e na forma, estão representadas no velho baú construído por Adriana Rocha. Cenas de antigos habitantes pintadas por Ana Michaelis em lâmpadas de gesso refletem a paisagem humana do lugar, anos atrás.

O passeio também inclui telas de acrílico sobre metal espelhado e sobre vidro de Celso Orsini, que recriam os recortes, espelhos e camadas em nossa memória e os desenhos e projeções de Cris Rocha sobre o mundo que podia ser visto pelas portas e janelas do antigo casarão. São muitas atrações, mas nada que possa ser descrito simplesmente com palavras. Vale a pena ver de perto.

 

Roberto Pinto 
"Ato Contínuo”, São Paulo, 2018

Á G U A

paisagem alterada

(Porto Alegre, 2016)

Os que moram nas grandes cidades se esquecem da natureza. Não contemplam o céu, ignoram tudo sobre a vida das plantas e do clima, sabem apenas o que a previsão do tempo informa. Inverno ou verão, são sempre surpreendidos pelo frio, pelo calor, pela chuva ou a falta dela como se esses fenômenos não fossem naturais. Em 2015, a seca prolongada levou inúmeras cidades brasileiras a recordar a importância da água para a sobrevivência das populações. O temor do racionamento e a impotência dos governos diante da crise hídrica fez com que a água deixasse de ser apenas o líquido que sai das nossas torneiras para voltar a ser o que sempre foi, um elemento indispensável à vida.  Depois de décadas de ocupação desordenada, os habitantes das cidades começaram a atentar para a relação existente entre a falta d’água e as agressões ao meio ambiente.

 

A contribuição dos artistas a essa tomada de consciência corre em paralelo aos fóruns que apontam a necessidade de preservação dos recursos naturais. É um jeito diferente de se ligar no que acontece, de apreender a realidade. Qual a cor do pó que levanta da terra seca? Como fica o céu quando a tempestade se aproxima? O artista traduz em imagens essas impressões e também nossos confusos sentimentos diante das poderosas manifestações da natureza.

Atento ao mundo a seu redor, ele observa as ruas molhadas, o lodo, a lama, a espuma do mar, a água parada. Percebe a atmosfera pesada de chuva, as gotas que escorrem pela vegetação, a poça escura a brilhar como um olho cheio de lágrimas. Sonha com ilhas evanescentes, com florestas adormecidas a beira d’água. Sua intenção não é registrar o que vê e sim, nos sensibilizar por meio de uma visão poética da paisagem.

 

Curadora:

Maria Alice Milliet – “Água, paisagem alterada”, Porto Alegre, 2016

Á G U A

paisagem alterada

Os que moram nas grandes cidades se esquecem da natureza. Não contemplam o céu, ignoram tudo sobre a vida das plantas e do clima, sabem apenas o que a previsão do tempo informa. Inverno ou verão, são sempre surpreendidos pelo frio, pelo calor, pela chuva ou a falta dela como se esses fenômenos não fossem naturais. Em 2015, a seca prolongada levou inúmeras cidades brasileiras a recordar a importância da água para a sobrevivência das populações. O temor do racionamento e a impotência dos governos diante da crise hídrica fez com que a água deixasse de ser apenas o líquido que sai das nossas torneiras para voltar a ser o que sempre foi, um elemento indispensável à vida.  Depois de décadas de ocupação desordenada, os habitantes das cidades começaram a atentar para a relação existente entre a falta d’água e as agressões ao meio ambiente.

 

A contribuição dos artistas a essa tomada de consciência corre em paralelo aos fóruns que apontam a necessidade de preservação dos recursos naturais. É um jeito diferente de se ligar no que acontece, de apreender a realidade. Qual a cor do pó que levanta da terra seca? Como fica o céu quando a tempestade se aproxima? O artista traduz em imagens essas impressões e também nossos confusos sentimentos diante das poderosas manifestações da natureza.

Atento ao mundo a seu redor, ele observa as ruas molhadas, o lodo, a lama, a espuma do mar, a água parada. Percebe a atmosfera pesada de chuva, as gotas que escorrem pela vegetação, a poça escura a brilhar como um olho cheio de lágrimas. Sonha com ilhas evanescentes, com florestas adormecidas a beira d’água. Sua intenção não é registrar o que vê e sim, nos sensibilizar por meio de uma visão poética da paisagem.

 

Curadora:

Maria Alice Milliet – “Água, paisagem alterada”, São Paulo, 2016.

Territórios sem Fronteiras

 

Territórios pressupõem fronteiras, se os entendermos como áreas demarcadas, ou, espaços cujas dimensões são definidas em função de seus limites. Ocupam territórios as nações, os estados e as cidades. Ocupam ainda territórios, bairros, casas, quartos, móveis, objetos e, porque não, os corpos. Por vezes, são áreas demarcadas por fronteiras claramente visíveis, senão táteis. Outras vezes, essas demarcações são apenas supostas. Vastas aplicações para um termo que somente se faz existir pelo fato de a ele estar associada a noção de limites. Aos territórios, ainda, equivalem áreas dentro das quais transitam as singularidades que lhes são próprias, como são próprias as expressões plásticas de cada um dos seis artistas que, aqui, expõem seus trabalhos. Entretanto, e entre essas expressões, ao apontarmos para a existência de territórios sem fronteiras, isso não significa que o conjunto mostrado tenha se apoiado num paradoxo, num jogo de palavras, ou, na tradução de uma obra única, indivisível. Esta ausência de fronteiras sugerida está associada a outra circunstância, passível de ser encontrada no trânsito de informações que ocorre no espaço abstrato que hoje nos envolve, enformado virtualmente, onde os saberes e as culturas trafegam livremente, estabelecendo diálogos prováveis e improváveis; onde o homem é capaz de estabelecer vínculos e articulações as mais plurais possíveis, a despeito de suas linguagens e de seus valores distintos e distantes.

Por isso, se esses territórios sem fronteiras apontam metaforicamente para a ideia de desterritorialização, ao mesmo tempo eles apontam para lugares demarcados, por refletirem, como refletem essas obras expostas, convívios diversos que, se sabem atuar em conjunto, também sabem ser independentes em suas ações.

Neste espaço, agora ocupado por esses seis artistas, se as matérias e as linguagens de seus trabalhos se aproximam, simultaneamente, todas elas sabem ser singulares.

 

Os projetos desenvolvidos em grupo pelos artistas Adriana Rocha, Ana Michaelis, Carlos Camargo, Celso Orsini, Cris Rocha e Patricia Furlong visam, por meio de exposições, oficinas e palestras, apresentar as diferenças e as tangências que o conjunto de suas obras possa produzir. O grupo, denominado Em Branco, realizou quatro exposições desde 2004: Galeria Bolsa de Arte, Porto Alegre, 2004; Fundação Clóvis Salgado, Belo Horizonte, 2006; Galeria Referência, Brasília, 2008 e Museu Casa das Onze Janelas, Belém, 2008.

 

O nome Em Branco carrega em si a ideia do porvir, daquilo que está por tomar forma, por ser escrito ou por ser concebido.

 

Carlos Camargo

 “Territórios sem Fronteira”, São Paulo, 2011.

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